Este disco, como quase tudo o que a ciência não explica, resultou de vários acasos conjugados. Tudo arrancou quando o João Bragança descobriu, num qualquer caixote de lixo em Palmela, um caderno de apontamentos no qual um anónimo, no final do século XIX, escrevinhou as datas de nascimento dos parentes, entre outros elementos de pouco valor. No meio do caderno surgia, no entanto, a transcrição da trágica história de Maria José, envenenada pelo marido por ciúmes instilados por uma comadre. O João depressa tratou de me fazer chegar o precioso volume. Apesar da pobreza literária, a leitura da pungente descrição da tragédia conjugal de outros tempos levou-me a contactar o Leote, esse trovador das misérias do pé-rapado urbano, a quem propus que musicasse o macabro enredo. O Presidente Drógado não só aceitou como compreendeu imediatamente que estes e outros relatos se enquadravam no contexto das murder ballads que se tornaram parte da cultura popular europeia dos séculos XVII e XVIII, e mais tarde celebradas pelos bardos americanos, de Johnny Cash a Johnny Dowd. E não se tornou sequer necessário traduzir tal termo, pois por cá temos os dramas de faca e alguidar, essa tradição associada ao fado chunga e aos ultrarromânticos, e que talvez explique a apetência dos indígenas pelas tiradas do Correio da Manhã. Juntou-se-nos no final o Rui Telmo Gomes, para dar uma leitura mais profunda ao que nos propusemos fazer.
Porque nada disto seria possível sem eles, um agradecimento especial a todos os músicos que colaboraram connosco.José Feitor, editor da Imprensa Canalha
Alinhamento:
#1: Maria José
Letra: Autor anónimo de finais do século XIX
Música: Filipe Leote
Masterização: Pedro Alçada
08:59
Filipe Leote: Guitarra semi-acústica e voz
Patrícia Filipe: Voz
Pedro Alçada: Produção e arranjos
Vozes e guitarra gravadas em 2015, numa manhã, no jardim traseiro de uma casa na Graça, em Lisboa. Posteriores arranjos em estúdio por Pedro Alçada.
#2: A História da Maria Petiza e do Josezinho de Alfama
Letra baseada no livro A História do Fado de Pinto de Carvalho (aka Tinop)
Música: Filipe Leote
Masterização: Pedro Alçada
06:15
Filipe Leote: Guitarra semi-acústica e voz
Filipe Felizardo: Guitarra eléctrica
Bernardo Devlin: Produção
Gravação de 2012, por Bernardo Devlin. Inicialmente guitarra e voz; Filipe Felizardo acrescentou, posteriormente e de improviso, a guitarra eléctrica.
#3: O Pagem
Letra: Fernando Teles
Música: Filipe Leote
Masterização: Pedro Alçada
03:12
Filipe Leote: Guitarra semi-acústica e voz
Rita Braga: Voz e sintetizador
Bernardo Devlin: Produção
Gravação de 2008, por Bernardo Devlin. Inicialmente guitarra e voz; a Rita Braga acrescentou voz e sintetizador.
#4: Cadáver no Saguão
Letra: José Vilhena
Música: Filipe Leote
Masterização: Pedro Alçada
05:40
Filipe Leote: Guitarra semi-acústica e voz
Jaime Salvadinho: Guitarra acústica e produção
Gravação de 2010, a altas horas da noite, por Jaime Salvadinho, em Brinches (Serpa); guitarra numa pista e voz e guitarra do Jaime na outra.
O disco contém todas as letras, para além das ilustrações de José Feitor e de um texto de Rui Telmo Gomes.
Sairá uma edição especial de 25 exemplares numerados que contêm o poster em serigrafia do cartaz de lançamento n'Os Amigos do Minho, no dia 20 de Maio.
Fotos promocionais de JP Nóbrega, captadas em sessão única na casa da Ana Menezes, no dia 7 de Abril:
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